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Segunda-feira, 03 de Novembro de 2025, 08h:50 - A | A

Quais países trabalham mais?

Milei quer elevar carga horária de trabalho de 8 para 12 horas por dia na Argentina

Terra

Em meio à promessa do presidente da Argentina, Javier Milei, de priorizar uma reforma trabalhista que pode elevar a carga horária de trabalho de oito para até 12 horas por dia, três países da América Latina já  encabeçam o ranking global de carga horária média anual de trabalho. Segundo levantamento da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o México, a Costa Rica e o Chile estão no topo da lista dos países que mais trabalham no mundo.

A OCDE reúne 38 países e tem como objetivo promover políticas voltadas para a melhoria do bem-estar econômico e social. No relatório de 2023, a organização comparou a média de horas trabalhadas por pessoa — incluindo empregados em tempo integral e parcial — e encontrou diferenças significativas entre as nações. A distância entre o país que mais trabalha e o que menos trabalha é de 864 horas anuais, o equivalente a 108 jornadas de oito horas.

Os dados são baseados no número médio de pessoas empregadas e as horas trabalhadas, que resultam da soma total anual dividida pelo número de ocupados.

Ranking dos países que mais trabalham
1. México — 2.207 horas anuais

O México lidera o ranking da OCDE com 2.207 horas anuais trabalhadas por pessoa, equivalente a 276 jornadas de oito horas. O país permite jornadas de até 48 horas semanais, com um dia de descanso remunerado. Em 2023, o Congresso chegou a discutir a redução da carga para 40 horas, mas a proposta foi suspensa por iniciativa do então presidente Andrés Manuel López Obrador. Sua sucessora, Claudia Sheinbaum Pardo, também não priorizou o tema. A alta carga de trabalho está ligada a salários baixos, políticas sociais frágeis e uma economia baseada em setores intensivos em mão de obra, como a agricultura e a indústria.

2. Costa Rica — 2.171 horas anuais
A Costa Rica ocupa o segundo lugar com 2.171 horas anuais trabalhadas, o que equivale a 271 jornadas de oito horas. Desde 2018, o Congresso costarriquenho debate uma reforma trabalhista que propõe jornadas concentradas de quatro dias de trabalho e três de descanso. O modelo é apoiado pelo setor empresarial, mas ainda enfrenta resistência política.

3. Chile — 1.953 horas anuais
Com 1.953 horas anuais, o Chile fecha o pódio. O país iniciou em 2024 a implementação da “Lei das 40 Horas”, que reduz gradualmente a jornada semanal de 45 para 40 horas até 2028. A legislação proíbe cortes salariais e prevê multas para empresas que descumprirem as regras, reforçando a tendência de países latino-americanos buscarem redução gradual da carga horária sem perda de renda.

4. Grécia — 1.897 horas anuais
A Grécia aparece como o país europeu que mais trabalha, com 1.897 horas anuais. Em 2023, o governo aprovou uma lei que permite semanas de seis dias e amplia o teto para 48 horas semanais em determinados setores. Trabalhadores que optam pelo regime recebem um adicional de 40% nas horas extras. A medida visa reduzir a informalidade e impulsionar o crescimento econômico, mas foi criticada por contrariar a tendência de redução da jornada observada em outros países da União Europeia.

5. Israel — 1.880 horas anuais
Em Israel, a média anual de 1.880 horas reflete longas jornadas de trabalho em diversos setores. Pesquisa do Instituto Israelense de Segurança e Higiene (IIOSH) aponta aumento de doenças crônicas entre profissionais que excedem as 42 horas semanais, com maior incidência de fadiga e distúrbios do sono entre mulheres.

6. Coreia do Sul — 1.872 horas anuais
A Coreia do Sul continua entre os países com as maiores cargas horárias do mundo. Em 2023, o governo flexibilizou o cálculo de horas extras, permitindo jornadas de até 21,5 horas por dia — desde que o total semanal não ultrapasse 52 horas. O movimento foi amplamente criticado pela oposição e por sindicatos, que apontam risco de sobrecarga e adoecimento.

7. Canadá — 1.865 horas anuais
O Canadá soma 1.865 horas anuais por trabalhador. A jornada padrão de 40 horas semanais é lei desde 1997 na província de Quebec, mas há variações regionais. O país depende fortemente de mão de obra temporária estrangeira em setores como construção e saúde, o que mantém as horas médias elevadas.

8. Polônia — 1.859 horas anuais
Na Polônia, o total de 1.859 horas anuais decorre da recuperação econômica e do crescimento da indústria manufatureira. Mesmo com medidas de valorização salarial, o país ainda apresenta jornadas longas em comparação a outras economias europeias.

9. Estados Unidos — 1.832 horas anuais

Os Estados Unidos aparecem em nono lugar, com 1.832 horas anuais. A ausência de uma lei federal que limite a jornada e a falta de políticas amplas de licença remunerada contribuem para a cultura de longas horas. Embora altamente produtiva, a economia americana registra aumento de estresse ocupacional e doenças associadas à sobrecarga de trabalho.

10. Turquia — 1.811 horas anuais
A Turquia encerra o ranking com 1.811 horas anuais. O país combina crescimento acelerado com políticas trabalhistas permissivas, que permitem jornadas prolongadas e horas extras frequentes. A ausência de uma rede robusta de proteção social leva muitos trabalhadores a ampliar o tempo de trabalho para complementar a renda.

Brasil e o trabalho excessivo
Embora o Brasil não tenha sido incluído no relatório mais recente, dados da OCDE e da Organização Internacional do Trabalho (OIT) indicam que o País ficaria abaixo da média das nações analisadas em relação ao número de pessoas com jornadas prolongadas.

De acordo com dados mais recentes da OIT (2024), 11% dos trabalhadores brasileiros têm jornadas superiores a 48 horas semanais, abaixo da média global de 17,7% registrada em 163 países. A carga horária média no Brasil é de 39 horas por semana, superior à de países como Estados Unidos e Reino Unido, mas inferior à de nações como Índia e México. 

 O Brasil, no entanto, enfrenta desafios relacionados à longa jornada e baixa produtividade. Informações de 2015 da própria OCDE mostravam que 6% dos trabalhadores atuavam mais de 50 horas por semana, proporção inferior à média da organização (10%). Além disso, os brasileiros dedicavam, em média, menos de 14,6 horas semanais a atividades pessoais e de lazer — indicador que reforça a concentração de tempo no trabalho formal e informal.

A redução gradual da jornada, acompanhada de ganhos de produtividade, é vista como um dos caminhos para aproximar o Brasil das práticas adotadas por países que priorizam o bem-estar do trabalhador sem comprometer o crescimento econômico. Há, inclusive, um forte movimento social e político em prol do fim da escala 6 por 1, um modelo de trabalho em que o profissional trabalha seis dias consecutivos e descansa em um dia, totalizando 44 horas semanais.

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