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Quarta-feira, 19 de Novembro de 2025, 13h:44 - A | A

CAOS NAS FINANÇAS

TCE-MT aponta rombo milionário nas contas e descumprimento de investimento na Educação na gestão de Emanuel

O relator apresentou o parecer pela reprovação das contas do gestor e apontou para um "descontrole generalizado", mas o pedido de vista de Valter Albano adiou a votação

Da Redação

O Tribunal de Contas do Estado (TCE-MT) emitiu parecer contrário à aprovação das contas de governo de 2024 do ex-prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB). O relatório do conselheiro José Carlos Novelli, relator do processo, identificou irregularidades gravíssimas, como o não cumprimento do investimento mínimo constitucional na Educação, rombos financeiros, dívidas sem cobertura e falta de repasses previdenciários.

Novelli afirmou que a situação fiscal de Cuiabá piorou em 2024 em comparação a 2023, quando as contas do município já haviam sido alvo de debates dentro do próprio Tribunal.

Menos dinheiro na Educação que o mínimo exigido por lei

A Constituição determina que os municípios devem aplicar pelo menos 25% da receita em Educação. Segundo o TCE, Cuiabá aplicou 19,8%, deixando de investir aproximadamente R$ 117,4 milhões na área apenas em 2024.

O conselheiro rejeitou a tentativa da defesa de compensar esse déficit com investimentos maiores feitos na Saúde. Ele explicou que Educação e Saúde têm regras próprias, não podendo haver compensação entre elas. Novelli chegou a falar que seria uma "inovação jurídica" e não há previsão legal para tal pedido.

Déficit, dívidas e caixa insuficiente

O relatório revelou um quadro crítico das finanças municipais:

Déficit orçamentário de R$ 74,1 milhões;
Déficit financeiro de R$ 806,2 milhões;
Para cada R$ 1 de dívida de curto prazo, a prefeitura tinha apenas R$ 0,28 em caixa;
R$ 579,1 milhões em obrigações assumidas nos últimos quadrimestres sem dinheiro disponível para pagar;
R$ 682 milhões deixados em “restos a pagar” sem cobertura financeira, ou seja, dívidas empurradas para o ano seguinte.

Para Novelli, o cenário demonstra “descontrole generalizado” das contas públicas ao final da gestão.

Previdência: contribuições atrasadas e risco ao Cuiabá-Prev

O TCE também apontou atrasos significativos nos repasses previdenciários:

R$ 32,4 milhões em contribuições patronais não repassadas ao Cuiabá-Prev entre maio e o 13º salário;
R$ 21,6 milhões descontados dos servidores que também não foram enviados ao fundo no período correto.

O atraso gerou multas superiores a R$ 1 milhão e motivou a abertura de Tomada de Contas para apurar os danos ao erário.

Repasses acima do limite constitucional para a Câmara Municipal

A prefeitura também ultrapassou o limite legal de repasse ao Legislativo. A Constituição estabelece um teto de 4,5%, mas Cuiabá repassou 4,53%, o que representa cerca de R$ 802,9 mil acima do permitido.

Irregularidades persistentes

O relatório técnico encontrou 18 achados, resultando em 17 irregularidades, sendo:

9 gravíssimas,

5 graves,

3 moderadas.

Apesar de algumas terem sido sanadas após defesa do ex-prefeito, os problemas estruturais — especialmente os ligados à Educação, às finanças e à Previdência — permaneceram.

Situação pior do que em 2023, dizem conselheiros

Durante a votação, o conselheiro Antônio Joaquim acompanhou integralmente o voto de Novelli e reforçou que as contas de 2024 são “ainda piores do que as de 2023”, sem dúvidas sobre a necessidade de rejeição.

O conselheiro Valter Albano pediu vista do processo, afirmando que Cuiabá tem particularidades herdadas de gestões anteriores que precisam de análise mais detalhada. Os conselheiros Sérgio Ricardo, Campos Neto e Waldir Teis aguardam o voto vista para se posicionar.

O que acontece agora

O parecer do TCE-MT é técnico e preliminar. Depois de concluído o julgamento dentro do Tribunal, as contas serão enviadas à Câmara Municipal, que dará o veredito final sobre aprovação ou rejeição.

Enquanto isso, o diagnóstico do Tribunal é claro: ao final de 2024, Cuiabá apresentava menos investimento em Educação, contas desequilibradas, caixa no vermelho, dívidas crescentes e falta de repasses previdenciários — um cenário fiscal pior do que o do ano anterior.

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