Após um júri que durou dois dias, os réus Adinaor Farias da Costa e Joenir Ermenegidio Siqueira foram condenados em 29 anos e 4 meses de prisão, cada um, pela morte do advogado Antônio Padilha de Carvalho, executado em dezembro de 2019, por denunciar desvios de verbas por membros da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores na Movimentação de Mercadorias de Cuiabá (Sintramm). A decisão do juiz Lawrence Pereira Midon acatou o conselho de sentença.
O julgamento dos 5 pronunciados iniciou na manhã de segunda-feira (2) e encerrou na noite dessa terça-feira (3). Os réus Adinaor e Joenir ainda tiveram como agravantes em suas penas as qualificadoras de motivo torpe, emprego de meio que dificultou a defesa da vítima, cometido por propósito de assegurar execução, ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime, e pela vítima ser maior de 60 anos de idade.
Já os réus Rafael Almeida Saraiva (apontado como intermediador na contratação de pistoleiros), Alison Thiago de Assis (acusado de tentar obstruir a investigação) e Isaimara Oliveira Arcanjo Assis (esposa de Alison) foram absolvidos.
O advogado e fundador do Sintramm, Antônio Padilha de Carvalho, foi executado a tiros por um motoqueiro na manhã do dia 4 de Dezembro de 2019, dentro de seu carro enquanto esperava um semáforo abrir, no bairro Jardim Leblon, em Cuiabá. Ao menos 4 marcas de tiros foram encontrados no carro da vítima, que estava acompanhado da esposa no momento do crime, que por pouco não foi baleada. O casal foi seguido desde a residência até o local.
Segundo a denúncia do Ministério Público, o advogado foi morto porque estava planejando revelar um esquema de desvio de recursos e conseguir a destituição da diretoria sindical.
Durante o julgamento, uma das filhas de Antônio relatou que o pai na época dos fatos, o pai constantemente reclamava de falta de prestação de contas da associação e dizia que havia desvio de dinheiro, o que o motivou a entrar com ação cível pública. Outra testemunha corrobora a versão e mencionou que Antônio era um dos fundadores do sindicato e que estava descontente com os rumos que estaria tomando após sua saída.
Muito emocionada, a filha de Antonio, detalhou que no dia dos fatos soube da morte do pai durante uma revisão em seu carro e tão logo soube foi até o local do crime. Ela recordou que o pai havia morrido no local e a mãe foi socorrida por populares, completamente fora de si e desesperada.
Antônio deixou 5 filhos órfãos e diversos netos. Um ano e meio depois a esposa morreu sem ver a justiça. Angustiada e deprimida, não queria ficar mais próxima a ninguém, com a saúde fragilizada foi acometida pela Covid-19 e faleceu. De acordo com familiares, Antônio fazia advocacia gratuita, recebia os clientes em casa, que era também seu escritório. Inclusive os próprios acusados frequentavam sua casa, eram membros do sindicato.
Parentes relataram que meses antes de sua morte Antônio mudou de comportamento, trocava telefone fixo e celular, estava nervoso, discutia muito no telefone. A noite apagava luzes e fechava janelas, trancava a casa com frequência.
Em seu depoimento, o delegado responsável pelo inquérito ressaltou que Adinaor e Joemir chegaram ao local do crime pouco depois do ocorrido. No entanto, teriam forjado alibi viajando para a cidade de Sorriso (420 km ao norte de Cuiabá) no dia anterior com a justificativa de levar uma kombi do sindicato para conserto, no entanto, foram de caminhonete e quando retornaram a Cuiabá se desfizeram dos celulares.
Após a morte de Padilha, Joenir, quando chegou à capital, jogou o celular no Rio Cuiabá. A quebra de sigilo telefônico constatou que a última ligação e registro de email é de cima da ponte. Imagens de câmeras de segurança e quebra de sigilo telefônico que resultaram em mais de 800 horas de gravações contribuíram para chegar aos autores do crime.
Em 9 de agosto de 2022, durante a Operação Chapeiros, a Polícia Civil prendeu o ex-presidente Sindicato dos Trabalhadores na Movimentação de Mercadorias em Geral de Cuiabá (Sintramm), Adinaor Farias da Costa; o ex-tesoureiro, Joemir Ermenegidio Siqueira, além de dois ex-sindicalistas, Alisson Tiago de Assis Silva e Rafael Saraiva Materazzi.
A acusação apontou como mandantes os ex-dirigentes do sindicato Adinaor e Joemir, que encomendaram o assassinato para silenciar Antonio, enquanto que Rafael de Almeida Saraiva foi indicado como intermediário da execução. O casal Alisson Tiago de Assis Silva e Isamara Oliveira Arcanjo Assis respondiam por falso testemunho.
Participaram do julgamento os promotores de Justiça Fabison Miranda Cardoso e Eduardo Antônio Ferreira Zaque; os defensores públicos Leandro Fabris Neto, Paula Ferreira Fernandes e Marcus Vinicius Esbalqueiro; os advogados Lauro Gonçalo da Costa e Gilson Tadeu da Silva. Foram ouvidas 12 testemunhas.