O presidente da Argentina, Javier Milei, terá mais força no Congresso após as eleições legislativas que aconteceram neste domingo (26) no país, segundo analistas.
A vitória, considerada surpreendente pela imprensa da Argentina, indica um cenário mais positivo para o presidente, com a cautela do público ante a um possível retorno à crise econômica de governos anteriores, avaliaram especialistas argentinos ouvidos pela agência de notícias Reuters.
A votação era considerada uma prova de fogo para Milei, que está no segundo ano de seu mandato. A popularidade do presidente caiu nos últimos meses devido a cortes nos gastos públicos e também a um escândalo de corrupção ligado à sua irmã, Karina.
Além disso, o partido de Milei agora tem um terço das cadeiras necessárias na Câmara dos Deputados para evitar que futuros vetos presidenciais sejam derrubados.
Com 99% da apuração concluída, o partido de Milei, A Liberdade Avança, conquistou:
64 das 127 cadeiras em disputa na Câmara;
13 das 24 cadeiras em disputa no Senado.
Até então, o partido de Milei tinha apenas 37 dos 257 deputados e seis dos 72 senadores. A chapa liderou na maior parte das províncias, inclusive em Buenos Aires.
Já o Força Pátria, principal bloco da oposição, levou 31 cadeiras na Câmara e 6 no Senado. Somando os aliados, a força de oposição peronista ganhou 44 vagas na Câmara e 7 no Senado.
De acordo com a autoridade eleitoral argentina, 67,9% dos eleitores foram às urnas neste domingo, um número considerado baixo.
Mais força no Congresso
Gustavo Córdoba, diretor da empresa de pesquisas argentina Zuban Córdoba, disse à Reuters que estava chocado com os resultados. Segundo ele, a votação reflete a cautela do público quanto a um possível retorno às crises econômicas.
Córdoba também afirmou que o governo de Milei garantiu o terço das cadeiras necessárias na Câmara dos Deputados para evitar que futuros vetos presidenciais sejam derrubados pelo Congresso.
Com o aumento da base no Congresso, Milei também deve receber mais apoio em suas políticas de reforma econômica.
Neste mês, o presidente anunciou que pretende implementar reformas trabalhistas para aumentar a força de trabalho formal, além de novos cortes de impostos nacionais.
No entanto, Milei estava sofrendo com a oposição no Congresso, que havia derrubado os vetos do presidente a projetos de lei que aumentavam o financiamento para universidades públicas, assistência médica pediátrica e a pessoas com deficiência.
"Muitas pessoas estavam dispostas a dar outra chance ao governo", disse Córdoba. "Veremos quanto tempo a sociedade argentina dará ao governo argentino. Mas o triunfo é inquestionável, inquestionável."
"O resultado é melhor do que até mesmo os apoiadores mais otimistas de Milei esperavam", disse à Reuters Marcelo Garcia, da consultoria de risco Horizon Engage.
"Com este resultado, Milei poderá defender facilmente seus decretos e vetos no Congresso", acrescentou Garcia, dizendo que os aliados terão mais incentivos para apoiar um presidente vencedor.
O fator Trump
Além da questão dos vetos, o aumento da representação do partido de Milei no Congresso deve contribuir para a relação entre a Argentina e os Estados Unidos.
Na semana passada, Milei tinha pedido ao presidente americano uma ajuda de US$ 20 bilhões. Trump, então, afirmou que um maior apoio dos EUA dependeria do sucesso do partido de Milei nas eleições de meio de mandato.
Trump comemorou a vitória de Milei nesta segunda-feira (27). O presidente americano, que está em viagem à Ásia, disse que o argentino contou com "muita ajuda" de Washington para garantir a vitória de seu partido, após o pacote de resgate.
“Ele teve muita ajuda nossa. Muita ajuda. Eu o apoiei — uma recomendação muito forte”, declarou Trump.
'Basta de populismo', diz presidente
Logo após a vitória nas eleições, Milei, afirmou que o resultado marca a "construção de uma Argentina grande".
"Os argentinos deram um basta ao populismo. Populismo nunca mais", declarou o presidente, em um momento de ovação do público. "Queremos um país que cresce."
"Foi um dia histórico para a Argentina. O povo argentino resolveu deixar para trás 100 anos de decadência e persistir no caminho da liberdade, do progresso e do crescimento. Hoje começa a construção da Argentina grande", discursou o presidente.
Partido venceu na maioria das províncias
Segundo a autoridade eleitoral argentina, A Liberdade Avança conquistou mais de 40% dos votos nas disputas pela Câmara, enquanto a Força Pátria obteve 24% (ou 31%, se considerados os partidos aliados).
A chapa do A Liberdade Avança liderou na maior parte das províncias, inclusive na maior delas, Buenos Aires, onde Milei havia amargado uma derrota em eleições locais em setembro.





