Em tempos de intensa exposição pública e de cobrança por resultados, é preocupante constatar o progressivo desprestígio da liturgia dos cargos eletivos, especialmente no âmbito das Câmaras Municipais. O vereador, figura essencial da democracia representativa, tem sua missão constantemente ofuscada por posturas que banalizam o exercício do mandato, empobrecem o debate e fragilizam o respeito ao Poder Legislativo perante a sociedade.
Nos plenários de muitas câmaras, é comum presenciar colegas sendo tratados por pronomes inadequados, sem o mínimo zelo pela formalidade que o cargo requer. O uso incorreto do verbo, da linguagem e da própria expressão oral durante as sessões é reflexo de um descuido que vai muito além da gramática: é um sintoma de falta de preparo e de respeito ao espaço institucional. Quando o parlamentar sobe à tribuna sem domínio da palavra, sem clareza, sem propósito e sem urbanidade, não é apenas sua imagem pessoal que se desgasta — é toda a instituição que perde prestígio.
A leitura do expediente, muitas vezes feita de maneira apressada, com pronúncias indevidas e entonações confusas, revela o quanto o ritual legislativo vem sendo tratado com descuido. Cada documento lido, cada projeto apresentado, cada pronunciamento proferido, representa um ato formal do Poder Legislativo e, portanto, deve ser conduzido com seriedade e dignidade.
A situação se agrava quando se observa o desprezo crescente aos regimentos internos, que são o verdadeiro alicerce da organização e do respeito mútuo dentro da Casa de Leis. Ignorar o regimento é desrespeitar a própria democracia, pois ele garante a ordem, o equilíbrio e a harmonia entre os pares. A quebra constante de protocolos elementares, como o uso adequado da palavra, a atenção ao tempo regimental e o respeito às falas dos colegas, compromete a credibilidade da Câmara e gera um ambiente de improviso e desordem institucional.
A tribuna, espaço sagrado da representação popular, tem sido, em muitos casos, transformada em palco de desinformação, de discursos rasos e de falas improvisadas. Faltam preparo, leitura, técnica e, sobretudo, consciência do simbolismo que é falar em nome do povo. O vereador que ocupa a tribuna deveria fazê-lo com a mesma responsabilidade com que um magistrado profere uma sentença: com serenidade, preparo e reverência ao cargo que exerce.
Urge, portanto, rever esses comportamentos. As Câmaras precisam resgatar a liturgia, o decoro e a ética parlamentar, não como formalidades antiquadas, mas como instrumentos de valorização da política e de reconquista da confiança popular. A liturgia não é vaidade, é símbolo de respeito institucional.
É preciso investir em formação continuada dos vereadores, promover cursos de oratória, ética pública e regimento interno. É necessário cultivar o orgulho de exercer o mandato com dignidade, lembrando que cada gesto, cada palavra e cada voto ecoam para além das paredes do plenário.
Resgatar o respeito à liturgia é resgatar o respeito ao próprio povo, que deposita no vereador sua esperança de representação legítima. Que este alerta sirva para reacender o senso de responsabilidade e de grandeza do cargo eletivo, especialmente no Legislativo municipal, onde o cidadão está mais próximo de seus representantes e espera deles o exemplo que inspira e dignifica a política.
Eder Moraes Dias – Suplente de deputado estadual, ex-secretário de fazenda, casa civil, copa do mundo e articulação politica em Brasilia do governo de MT, também é economista, administrador de empresas, bacharel em direito e constitucionalista.



