Na última semana, a Meituan, maior empresa de delivery de alimentos da China, anunciou um investimento de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,6 bilhões) para atuar no Brasil até 2030. O início das operações está previsto para setembro de 2025, consolidando a entrada da gigante asiática em um mercado dominado hoje pelo brasileiro iFood.
A chegada da Meituan, que opera internacionalmente sob a marca Keeta e realiza cerca de 70 milhões de entregas diárias na China, ocorre logo após os acordos firmados pelo presidente Lula em visita oficial a Pequim. Uma foto do encontro entre Lula e o bilionário fundador da Meituan, Wang Xing, viralizou nas redes sociais chinesas e alimentou especulações sobre a relação do governo brasileiro com o setor nacional de entregas.
Apesar do otimismo de consumidores e da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), que vê com bons olhos o aumento da concorrência para reduzir as taxas cobradas atualmente, a entrada da Meituan preocupa concorrentes locais. O setor nacional destaca as dificuldades históricas de diálogo com o governo, especialmente com o Ministério do Trabalho, e acusa a empresa chinesa de práticas controversas, como jornadas exaustivas e uma competição interna gamificada entre entregadores.
No Brasil, o mercado é amplamente liderado pelo iFood, que realiza cerca de 100 milhões de entregas mensais e cobra comissões que variam entre 12% e 23% dos restaurantes parceiros. Em resposta, concorrentes como 99food e Rappi têm zerado suas taxas para atrair novos restaurantes, embora a viabilidade financeira dessas estratégias ainda seja questionada.
Vale lembrar que a 99food, controlada pela chinesa DiDi Chuxing, anunciou recentemente um investimento de R$ 1 bilhão no Brasil, e a Rappi projeta aportar R$ 1,4 bilhão até 2028. Em 2022, a Uber Eats deixou o país, o que enfraqueceu a competição no setor.
A regulamentação do trabalho dos entregadores ainda é incerta. O governo federal entregou um projeto de lei para regulamentar motoristas de aplicativos, mas o texto não contempla o delivery de refeições, e a proposta ainda não foi votada. O setor clama por uma atuação mais firme do governo para estabelecer regras claras e equilibradas.
Para Paulo Solmucci, presidente executivo da Abrasel, o ingresso da Meituan representa uma oportunidade para tornar o mercado mais competitivo e beneficiar consumidores e comerciantes. “Estamos saindo de um ambiente quase sem concorrência para um cenário potencialmente muito competitivo”, afirmou.
Com previsão de início das operações para setembro de 2025, a Meituan promete mexer com as estruturas do mercado brasileiro de delivery, em meio a um cenário geopolítico mais amplo, onde a China expande sua influência global em meio à guerra comercial contra os Estados Unidos.
